sexta-feira, 22 de fevereiro de 2019

MUNDO AO AVESSO


Meu Camelão
e seus pés de borracha


É interessante como a cada dia aprendemos mais e mais, mesmo que inconscientemente, buscamos novos prazeres, mas nunca desprendemos dos prazeres do passado. Minha geração tem saudades das, hoje estranhas, brincadeiras na rua, tais como esconde esconde (no sentido de esconder de uma pessoa que tem como objetivo te encontrar não no sentido de troca-troca), ir pescar e nadar sem ter certeza em qual local e hora certa de voltar, carrinho de rolimã e ai vai. Já nossos pais têm saudades de tudo que citei mais os bate coxa nos forrozão de fim de semana e as prazerosas,  agitadas, poucas festas que tiveram a oportunidade de ir, após um dia cansativo de trabalho árduo. Quanto aos nossos avos, imagino eu que, aproveitaram tudo que citei acima, dividido por dois, menos os churrasquinho nos fins de semana, cervejinha gelada e funk proibidão.

Em fim, eu por exemplo, quando adolescente, com muito custo e trabalho, conseguir adquirir um bicicleta Monark quase completa, pois só faltava a câmara de ar traseira o freio da frente e um dos pedais, mas por sorte e dedicação, em menos de dois mês, através de trocas/catira, eu conseguir monta-la e assim deixa-la prontinha para um delicioso passeio por minha cidade.

Mesmo que esta, “eventualmente”, me deixava na mão, seja por soltar a corrente ou esvaziar o pneu repentinamente, ela era a minha alegria após chegar da escola, independentemente desta quase nunca me trazer ileso ou sobre o seu banco.

O meu único estresse era os desconfortos que passava enquanto navegava por certos ambientes e trajetos, pois era inevitável ouvir gritos, tipo:

“Ouu... que camelão maneiro, em...(cara de deboche)”
“Sua bicicleta é a sua cara, em mininú (risos)”
“Esse cabritão é forte, viu. há 50 anos atrás eu tive um desse (suspiro de lembranças seguido de gargalhadas)
“Tão novo é já sabe dominar um toro bravo”
“Seu bisavó teve bom gosto, em”

Antes mesmo que terminassem os gritos, eu já respondia mentalmente:


“Bom dia para você também, chifrudo”
“Estou indo buscar a sua irmã para dar uma voltinha”
“Está sem freio para ficar mais fácil de te atropelar”
“O pneu está murcho, pois dei carona para a sua mãe ir à missa”

“ Ahhhhh... Vai tomar no c...”




Mal sabia eles que, contribuíam para que eu chegasse ainda mais rápido ao meu destino, pois filtrava os gritos e os transformavam em energia para pedalar ainda mais rápido.

Recentemente cheguei na casa de um colega e ao passar por um porão, avistei um quadro de bicicleta com uma barra circular no centro do quadro, logo parei fui em sua direção e confirmei que esta era uma legitima Bicicleta Monark antiga, do jeitinho que eu planejava comprar.

Quer setenta conto naquele museu ali: Falei ao colega, após retirar o último dinheiro que tinha para sobreviver até o próximo quinto dia útil.

“ok”: Respondeu ele após puxar o setentinha da minha mão, logo me bateu um desespero, pois aquele era o único dinheiro que tinha, não havia conferido se tinha mais alguma coisa além do quadro, guidom e uma roda e me arrependi por um momento, pois pela empolgação da venda, se tivesse oferecido cinco reais eu comprava mesmo assim.

Prontamente me recompus, enxuguei as lagrimas, relembrei que tinha pesquisado na internet o preço de uma Monark antiga e que estas estavam avaliadas acima de 500 reais, logo, dei um sorriso, juntei as peças e sorrir novamente, pois o Camelão estava completo, a maioria das peças originais e quase em condições de montar e desbravar novos caminhos.

Não espero muito respeito dos carros, nem agilidade dos governantes para criar alternativas e condições adequada para um bom convívio entre pedestres que imaginam ser carros e assim se sentem no direito de trafegar pela rua e os motoristas de automóveis que reconhecem uma bicicleta como alvo a ser atingido ou derrubado.

Já que você leu o texto até aqui, faça me um favor:

Sendo condutor de automóvel ou não, propague a ideologia do respeito aos ciclistas e vamos cobrar mais dos governantes para que haja mais ciclovias e conscientização da população quanto a este meio de transporte que precisa ser mais respeitado e difundido.

Atenção: A qualquer momento você pode se deparar com um camelão passeando no horizonte da sua cidade, bairro, e até pensamento, sendo assim, por obsequio, RESPEITE-O

Forte abraço, mas não se esqueça, já vai separando o dinheiro para a compra do livro de crônicas, PenaforteHOJE, com previsão de lançamento em meados de 2020.

Belo Horizonte, algum dia nublado da terceira semana de fevereiro de 2019


2 comentários:

  1. Hahahahahaha É sempre uma delícia pedalar. Meu tio tinha um camelão, eu adorava andar na dele e largar a minha pequetita de lado. Saudades dessa época...

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  2. Muito legal essa cronica, me fez lembrar que eu sempre quis ter uma bicicleta, a caloi com cestinha, nunca tive, não aprendi a andarde bicicleta, vou pensar nisso, nunca é tarde pra aprender, Parabéns Claudinei.

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