“ESTÁ MORTO: PODEMOS ELOGIÁ-LO À VONTADE” MACHADO DE ASSIS
Durante os dias úteis
da minha semana, eu e o meu companheiro sono, combinamos que entre 5 e duas
horas interruptas seriam o suficiente juntos, pois além de ser o suficiente
para um delicioso descanso, tenho mais tempo para criar e executar minhas
ideias. Já no fim de semana lhe dedico um pouco mais de tempo; hoje, por
exemplo, acordei às dez horas e alguns minutos. Ao me despertar, juntar todas
forças que tinha, sentar à beira da cama e sentir o calor que o dia prometia,
lembrei que havia dois latões de cerveja kaiser no meu congelador, logo sorrir
e depois tive que lamentar, pois só tinha duas; prontamente levantei foi em direção ao banheiro, parei frente ao
espelho, retirei os pedaços de papeis higiênicos que ainda estavam dentro do
meu ouvido, pois no dia anterior havia pingado gostas de remédio no interior da
orelha com a expectativa de acordar ouvindo melhor, mas como ainda sentia
zumbidos, abafamento e desconforto, de raiva, resolvi não lavar o rosto; logo
foi em direção ao vaso sanitário, e com muita dificuldade, consegui dominar a
fera e assim acertar o jato de pipi na agua do vaso.
Enquanto balançava o
‘’negoção’, lembrei de algumas diálogos femininos do dia anterior e comecei a
criar mentalmente uma crônica que se chamaria Comer, Beber e Comprar, mas, logo
lembrei que já havia um filme e livro com um titulo parecido; Comer, Rezar e
Amar.
Após alguns segundos
de congelamento físico e mental para tentar criar um novo titulo para meu novo
texto, enquanto lavava as mãos para fazer um delicioso e forte café, resolvi
deixar a crônica sobre as mulheres modernas para depois, pois novamente meus
ouvidos começavam a me incomodar com zumbidos e leves dores, logo veio o
incomodo e a ideia de escrever sobre um assunto sobre orelhas, ocorrido na
França às vésperas do Natal de 1888, mas reconstituindo-o hoje e prevendo as
possíveis reações da internet e das mídias sensacionalistas.
Belo Horizonte,
véspera do Natal de 2018.
Nascido em uma
família de classe média na Holanda a 33 anos, aos 26 decide mudar-se para o
Brasil, onde ao chegar a cidade do Rio de Janeiro, percebe-se que ali também
seria um tedio, logo, após ouvir alguns burburinhos vindo de turistas mineiros,
resolve mudar para Minas Gerais, e assim alugar um apartamento no segundo andar
do Edifício Maleta, localizado no centro da capital mineira.
Antes mesmo de
completar um ano de estadia no hiper cento de Belo Horizonte, Vicente decide
romper o contrato de aluguel, pois o sindico não o deixou pintar o prédio de
amarelo, fato esse revisto e posteriormente aceito pelo sindico devido à
proposta de Vicente de comprar o apartamento que estava à venda há cinco anos e
arcar 100% com a sugerida pintura e reformar a fachada do prédio, fato este
responsável por consumir toda a sua economia, o deixando assim dependente do
irmão/amigo Theo e da venda do estoque de dezenas dos quadros que pintou.
Certo dia, como
sempre fazia após um café e um bate papo com a garçonete, Vicente voltou para o
seu atelier, olhou pela janela, voltou-se para a sua obra e deu o último
retoque, deu mais um gole na garrafa de cachaça, preferiu um soco na parede,
foi em direção ao banheiro, pegou a sua navalha, posicionou-se frente ao
espelho e resolveu cortar sua orelha esquerda.
Ao perceber que o
sangue não parava de escorrer sobre o seu pescoço, agora incomodado, ele rasga
uma de sua camisa e a transforma em faixa para estancar o sangue.
Já com um pano
enrolado em volta da cabeça e agora inquieto e sem saber oque fazer com o
pedaço de orelha que estava sobre a pia, Vicente decidiu o embrulhar em uma
sacolinha de supermercado e colocar no bolso, antes de ir em direção ao sofá,
pega o seu companheiro chapéu, fecha a porta, desce as escadas vagarosamente,
chega a rua, olha de um lado para o outro e normalmente começa a caminhar pela Rua
da Bahia em direção ao Viaduto Santa Tereza. Ao chegar sobre o Viaduto e visualizar
a agua poluída do Rio Arrudas a poucos metros, ele decide voltar um pouco e
seguir a esquerda, sentido a Praça da Estação, onde ao chegar a praça foi em
direção a Rua dos Guaicurus.
Já próximo ao seu
destino, para frente a uma porta de um dos bordeis, olha para o porteiro que o
assistia desconfiado, provavelmente pelo fato de ainda esta com um pano
enrolado a cabeça e um chapéu fora de moda, e sem qualquer incomodo começa a
subir a escadaria, chega ao corredor e vai em direção ao último quarto, onde
bate duas vezes na porta e chama pelo nome de Gabriela, que prontamente o
recebe, mas com espanto, pois o amigo estava com acessórios estranhos em volta
da cabeça e lhe entrega um pedaço de orelha humana.
No dia seguinte os
jornais destacavam entre outros relatos:
“Homem corta a própria
orelha para presentear prostituta de BH”
“Louco corta a orelha
e entrega a garota de programa da Capital”
“Horas depois do episodio no bordel, às 7 hora da manhã
na véspera de Natal, ele foi encontrado pela policia em sua cama, em posição
fetal e com a cabeça envolta em trapos empapados de sangue. Os policiais
pensaram que ele estava morto, mas não estava”
Ao chegar ao pronto
socorro, Vicente foi atendido pelo doutor Felix Rey, que cuidou atenciosamente dos
seu ferimentos, ação esta que lhe rendeu um lindo a fresco do seu rosto feito
pelo artista enfermo.
Um ano e meio depois
Vicente morreu por complicações de uma infecção devido a um buraco de bala no
ventre.
Dentre as teorias
estudadas, Vicentinho teria inventado uma tentativa de suicido para proteger os
amigos que por acidente, lhe dera um tiro na barriga.
Vincent van Gogh faleceu
na manha do dia 29 de julho de 1890.
Ps:
Meu livro Doce&Sangue, lançado em abril do ano passado, segue uma dinâmica parecida
com esta crônica.
Capital Mineira, algum
dia de janeiro ao som de Debussy, em 2019.
Claudiney Penaforte/
Uma das Crônicas do livro PenaforteHoje.
kkkkk excelente! Van Gogh no Maleta foi espetacular!!!
ResponderExcluir